terça-feira, 19 de agosto de 2014

As rúculas morreram.

As rúculas morreram. Uma a uma. Fiquei um tempo bastante chateada e perdi o interesse pelo jardim. Logo o manjericão, desolado, morreu também.

Eu acho que não percebi o final das chuvas. Tinha que ter redobrado o cuidado pois choveu bastante este ano e elas estavam muito felizes. Tudo floresce quando chove. Água abençoada.

Quando finalmente me voltei para o jardim vi que abaixo do solo 3 ou 4 centimetros já era tudo seco como pedra. Impossível sobreviver! 

Enfim, agora estou me penitenciando. Voltei a regar e estou dedicando mais tempo ao jardim. Nem lembrava como era prazeroso pisar na terra, sujar as mãos.  Plantar uma semente é um ato de fé. Vou fazer tudo certo: semear e regar. E cuidar que as ervas daninhas fiquem longe. Penso que estou fazendo o meu melhor, de acordo com o que acredito, e que tudo vai dar certo. Fé.

De novo as lições do jardim que eu finjo que não é comigo. A lição do cuidar.
Mais fácil cuidar de criança e cachorro do que cuidar de plantas.
Porque as crianças falam. E alguns cachorros também.

Às vezes esqueço de sair com a Mary por um ou dois dias. Ela fica logo no seu limite. Faz campanha, chantagem emocional... Tudo!

As beterrabas do Maurício salvaram-se as que estavam do lado de lá do quintal porque não pegam sol o dia todo. Sorte que plantamos dos dois lados.

Eu errei tanto que quando decidi onde seria o canteiro não pesquisei corretamente qual seria o melhor lugar. Na verdade, nem dava, era tudo mato crescido. Eu achei um cantinho para começar.

Minha mãe me mandou novas mudas.

E começar tudo outra vez com fé e alegria!

sexta-feira, 7 de março de 2014

Feminismos

Já que consegui fazer a postagem sobre política em "Fascista é você" , vou arriscar agora falar sobre o meu feminismo (a quem interessar possa).  É outro tema que acho delicado. Eu acho delicado pra mim porque me falta compreensão. Outro dia brinquei que sinto que estou velha quando tenho que decifrar mensagens de pessoas mais jovens. Alguns jargões já fogem ao meu entendimento.

Então, por não encontrar respostas, formulei  meus próprios ideias feministas que em muitos pontos se solidariza com as feministas do mundo todo, em outros nem tanto. Mas sempre o que todas as feministas desejam: mulheres livres lutando pela felicidade ombro a ombro com os homens.

Em uma entrevista não lembro para qual programa, Regina Navarro perguntada sobre se era feminista, respondeu que todo mundo tem que ser feminista por que basta olhar todo o sofrimento da mulher ao longo da história para ser feminista. Fechei com ela!

Então eu sou feminista porque reconheço e respeito a dor e a luta de todas as mulheres ao longo da história. Reconheço que a vida que temos hoje é muito diferente da vida das nossas mães e das nossas avós. Não temos ainda a vida livre que desejamos  mas não paramos ainda de caminhar.

Eu já contei mil vezes essa história mas vou contar de novo porque ela é a pedra fundamental da minha construção íntima, a mulher que eu sou veio de muitas lições de vida. Essa é uma delas...

Minha mãe nasceu em uma pequena aldeia de Portugal e era uma sinhazinha. Como era de costume que as moças fossem prendadas aprendeu a cozinhar, lavar e costurar. Pronta para casar, escolheu um pretendente que não agradou minha avó que a mandou para o Brasil a fim de esquecê-lo.  

E aconteceu que ela aqui se casou por amor com meu pai, um seu patrício de "trás-os-montes". Foi tudo um sonho mas  quando acordou tinha quatro filhos pra criar e estava sozinha. Foi um casamento de opressão. Ela quase chegou a perder os dentes porque meu pai jurava que ela tinha um caso com o dentista. E ele também bebia e não ajudava nem com a casa nem com os filhos.

Uma história comum como tantas outras. Mas  aqui é a parte que me encanta: um dia ela se lembrou que sabia costurar e a máquina de costura foi sua arma para criar os filhos com a dignidade que também trouxe na bagagem.

Lutou muito. Passava dias em cima da máquina de costura com os filhos chorando na barra da sua saia. Também deu pensão, cozinhou pra fora...

Eu acho lindo porque ela transformou um instrumento de opressão em uma arma de luta pela liberdade. Afinal ela aprendeu a costurar apenas para remendar as cuecas do meu pai!!

E foi essa mulher que eu cresci admirando e que sem saber  me deu as primeiras noções de feminismo.
Eu comecei a trabalhar muito cedo e tive filho cedo também. E como minha mãe criei meu filho sozinha.

Há 30 anos não era muito fácil  vencer no mercado de trabalho quando você é a única pessoa da equipe que precisa sair correndo para atender seu filho que está com febre. Ou mesmo vencer os espaços antes dominados pelos homens sem chorar por causa das cólicas. Aprendi cedo a engolir o choro.

Carrego essa herança de ringue mesmo. Eu era a mulher desses cartazes que circulam por ai no dia das mulheres. Em cima do salto alto pra me dar ao respeito. É. "Dar-se ao respeito" era fazer o outro nos respeitar.  E era realmente importante. Eu nunca me furtei a usar de um pouco de sedução no ambiente de trabalho. Era o respeito que eu impunha que me protegia. E me protegia também o fato de não ter medo de falatórios.  Eu realmente não me importava. Eu fazia um bom trabalho e brigava por salário. Homem a homem.

Não escapei dos revezes. Tive sim que parar de trabalhar por um tempo quando meu filho teve problemas na escola.  Também não escapei de viver várias situações de abuso, algumas tão amargas que ainda hoje estão para ser digeridas.

Tive momentos de muita angustia. De muita solidão também. Alguns meses atrás eu estava a um passo da depressão. Foi minha mãe que disse: "Filha, você viu quanto eu sofri. Agora eu não tô aqui? Vocês todos não estão criados e bem? A vida é assim. Não chore. Lute!"  Essa força que eu quis trazer para o blog. Porque a gente não tem que ficar com mimimi, sabe? Nós sabemos o que precisamos fazer. E sabemos como fazer.

Quando eu estava perto de ter meu filho eu pensava que não ia saber como cuidar dele. E se eu deixasse ele cair? E se eu não gostasse dele? E se eu não fosse uma boa mãe? Nossa, eu tinha tanto medo... Mas quando ele nasceu, que eu o peguei no colo pela primeira vez, eu não tive medo. Não seria perfeita mas saberia o que fazer em cada momento.

Não havia nenhum movimento feminista forte. Já existia, é claro. Eu é que não me tocava. Eu de verdade nunca vi as coisas como fardo do feminino. Eu via como vida mesmo. Resultado das minhas escolhas.

Por isso no meu feminismo não cabem muito essas discussões sobre se é rosa ou azul,  se tem que ter pelo ou não tem que ter pelo, se a Barbie pode ter influenciado uma geração, se vamos de minissaia ou de burca. São relevantes para vários movimentos e aí é que me cansa um pouco porque acho fora de foco.

Eu me interesso pelas discussões que dizem respeito as liberdades individuais como é a questão da descriminalização do aborto. Como posso me tornar responsável pelo que acontece comigo se não puder fazer minhas próprias escolhas? Quando terei o controle sobre minha vida se tudo é sina?

Também eu gostaria de ver mais campanhas sobre violência na TV, nos cartazes. Não só quando chega o dia das mulheres mas sempre.  Temos leis que punem agressores mas não está funcionando. Todos os dias uma mulher é morta porque tentou abandonar o parceiro. Todos os dias milhões de mulheres são vítimas de violência e/ou abuso. E esse quadro não está mudando.

É preciso um freio definitivo nisso. Uma ação conjunta que faça o sujeito lá no meio do mundo entender que não pode ser violento. Um esforço de toda a sociedade. Não só das mulheres, mas dos homens. Que conversem com seus amigos. Que se abra amplo debate sobre essa questão.

Enfim, esse é o meu feminismo.

Feliz Dia Internacional da Mulher.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Rosas de Ouro no meu coração...


Eu sei que já chegou de novo o carnaval quando a Taninha começa a postar fotos dos ensaios na Rosas de Ouro.

Eu gosto muito de samba,  mas não somos feito corda e caçamba não!
Morria e não lembrava que existe carnaval.

Daí abro o facebook e tem lá o sorriso largo dela bem no meio da muvuca...
Quase posso ouvir:  "Vamos festejar! É carnavaaaaaaal!"

Isso ao mesmo momento em que uma outra notícia anunciava que estamos mais negativos do que nunca. 

"A análise de mais mil posts no Facebook e no Twitter mostra que a negatividade do brasileiro — tristeza, pessimismo e reclamações (não relacionadas a produtos ou marcas) — só cresce. Entre novembro de 2013 e janeiro de 2014, o primeiro mês do ano foi o que fomos mais negativos. Esse sentimento não é típico: em janeiro de 2013 estávamos mais felizes que em novembro e dezembro de 2012."  ler o artigo na íntegra. 

Motivos para preocupações temos de sobra e talvez seja verdade que estamos viralizando a tristeza. Não vou nem mentir: eu me sinto triste!

Eu especialmente por causa dos problemas que eu tive. Que tem a ver com essa sensação de que o país está desorganizado. Perdi uma causa porque o judiciário demorou muito para  julgar. É foda esquecer isso. E estou pagando impostos atrasados por que a empresa ficou quase um ano fechada. E quando eu vejo que pode acontecer disso não mudar. De ser o mesmo sistema judiciário daqui 10 anos porque parece que só eu que reclamo. Dá uma aflição às vezes. 
Eu penso muito e acabo triste mesmo.

Mas de repente alguém lembrou que é carnaval...
E é uma festa bonita, cheia de significados.
Por que não?


Ainda vejo cenas lindas da infância. Guerra de água com espirrador, matinês no ginásio do Ibirapuera, festas na vila, samba de mesa.
Todo mundo sorria.

Carnaval é feito de samba e todo samba é uma poesia.

"Em retalhos de cetim
Eu dormi o ano inteiro
e ela jurou desfilar pra mim"



As coisas não têm sido fáceis e é por isso que precisamos dos carnavais. Entre uma guerra e outra, um x no calendário e um aviso na porta :
"voltamos na quarta-feira de cinzas!"

"isso não se faz, arnesto!"

Ora, sinto muito! Vá fazer um carnaval pra você!

Ponha umas cervejas pra gelar
Faça uma seleção especial com  marchinhas, samba-canção (é, a cueca veio bem depois!) e encontra aquele enredo das antigas.

Deixa para o fim da noite umas baladas do Kid Abelha ou melhor ainda: alguma coisa da Rita Lee!

"eu tô ficando velho, cada vez mais doido varrido"

Só pra ir lembrando que já já a vida recomeça.

"Carnaval são só 3 dias
de cachaça e de folia
de alegria e emoção" 


Como a Taninha gosta muito da Rosas de Ouro eu pesquisei o samba enredo desse ano.  Não presto atenção aos desfiles na TV então fui pesquisar.  E olha lá,  parece que leram meu coração!

O nome do samba enredo: "Inesquecível." Pois é! Vem falando das emoções da infância. Das coisas que nos tocaram ou das coisas que vivemos.  E da importância de guardar isso tudo na memória. Então quer dizer que eu já tinha uma carnaval prontinho dentro de mim! Bastou o primeiro tamborim e aqui estou!

"Pelos caminhos dessa vida
Viajei no tempo, nas minhas lembranças
De quando era uma criança
Que tinha medo de bicho papão.
Fazia arte por todas as partes
Eu li, brinquei no mundo da imaginação
"
Sociedade Rosas de Ouro


Então quer dizer que eu já tinha uma carnaval prontinho dentro de mim! Só precisava saber que mais alguém acredita.
Salve, Taninha !
Salve, Rosas de Ouro!




sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Ainda as ervas daninhas...

Ainda as ervas daninhas...

Aconteceu que há um jardim na frente da casa  só um gramado com uma palmeirinha, algumas flores e os antúrios da minha mãe. Um rapaz estava cuidando pra mim mas não deu mais certo. E agora eu vi que ele estava só aparando e as ervas daninhas foram tomando conta..

Olha só a definição de erva daninha: qualquer planta que você não semeou. Qualquer coisa que nasça no seu jardim sem ser semeada é uma erva daninha. Sim, sim... O alecrim dourado da música é uma erva daninha. E se você não cuidar ele toma todo o jardim...

Geralmente as sementes são trazidas pelo vento ou por insetos.  Aqui deu aqueles carrapichos. Sabe, que ficam grudados na roupa, espinhudinhos. Eu passei um tempão resolvendo isso no jardim de trás. Desde que cheguei aqui decidi que queria poder pisar na grama sem machucar os pés. Ando descalça lá pra sentir e tirar assim que elas brotam.

As ervas daninhas tem que ser mesmo tiradas com a mão. Porque se você for só aparar  vai estar espalhando sementes. Você tem mesmo que colocar a mão na terra e tirar uma por uma. Ou fazer como eu fiz em alguns pedaços: cavar mesmo com o sacho, tirar uma parte mesmo de terra e colocar uma nova.

Eu to fazendo com a mão mesmo agora. E é uma terapia.  Porque a natureza é mesmo sábia. E a lição da erva daninha é que é preciso reconhecê-la. Na alma da gente vem em forma de sentimentos ruins, desesperanças, mágoas, medos.. Aquele medo que te paralisa, aquela revolta ou de repente, náuseas.

Pode até fazer sentido carregar alguma mágoa. Você pode entender que a semeou de alguma forma. Pode ser aquela dorzinha boa lá no fundo do coração, uma saudade, uma amor pra lembrar.  São como o alecrim. Erva daninha boa mas que a gente tem que cuidar pra não tomar todo o jardim.

Então o primeiro passo é identificar as ervas daninhas. Esse medo, essa raiva que vem lá do passado e enche de sombras o presente. Coisas que você simplesmente não precisa e não quer deixar crescer no seu jardim.

É arrancar. Você precisa ir bem fundo para jogar fora com a raiz. Se não, em pouco tempo cresce de novo. Tem que ser de uma vez pra sempre. Mergulhe bem fundo, toque a raiz com coragem. Dai arranca de uma vez pra sempre.

Depois não pode jogar fora em qualquer lugar. Lembra que são ervas daninhas e elas  sempre voltam. Precisa queimar mesmo. Ou levar para algum lugar bem longe de você.

De uma vez pra sempre!

Esse vídeo sobre elas é muito inspirador.

O que faz uma erva daninha? - O Mundo Secreto dos Jardins



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

#prontofalei



Brasil, 28 de Fevereiro de 2014 


 Foi muito breve a nossa sensação de vitória. Hoje grande decepção nos julgamento dos tais recursos pelo  STF. Tem gente que apoia, que fica feliz. E eu fico me perguntando se as pessoas sabem a gravidade do que está acontecendo e dos crimes cometidos por estas pessoas. Estavam vendendo a democracia tão duramente conquistada. Eles corrompiam representantes do povo para votar segundo seus interesses.
É um golpe duro contra a democracia!!

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Fascista é você!




Já me chamaram de "fascista" em várias discussões na Internet. Não me incomodo. Acho infantil apenas e me culpo algumas vezes por ter de novo entrado em discussões desse nível.

Não me incomodo porque não me identifico com nenhum regime autoritário.

Chamam também de coxinha, reaça... E eu acho que as pessoas não sabem mesmo o que estão falando. Apenas repetem bordões. E não quero discutir com papagaios em um momento tão importante da nossa política.

Vou falar aqui de uma vez por todas as minhas opiniões e pedir encarecidamente que não me encham o saco nos comentários, repetindo no meu ouvido os mesmos velhos mantras. Simplesmente porque eu não vou mudar o meu pensamento nem você. E vamos estar aqui nos desperdiçando.

Para as próximas eleições procuro que me represente:

Alguém comprometido com ideias apregoadas por seu partido.  E um partido com ideias e propostas claras. Jamais votarei em um partido que apregoa uma coisa e faz outra justificando tudo em nome da governabilidade. Não darei meu voto a nenhum partido que pareça estar vendendo o povo ao diabo apenas para ganhar a eleição. Isto posto,  já se sabe: quero um partido de oposição ao Governo atual.

A pessoa que eu escolher para me representar deve estar comprometida seriamente com alguns pontos que são fundamentais para mim:

Primeiro a liberdade. Liberdade em todos os sentidos. Liberdade para a  Imprensa e liberdade para eu trocar de canal sempre que alguma coisa me incomodar. Liberdade para gays e lésbicas e respeito a toda a diversidade. Acolhimento e políticas de saúde especiais para travestis e transsexuais.

Liberdade para que cada pessoa se construa segundo seu próprio entendimento e seus talentos. Que os jovens sejam assistidos e que recebam ferramentas para desenvolver-se de acordo com seus próprios ideais.

E como a liberdade sempre tem a do outro, desejo que sejamos capazes de conviver com as diferenças. Há que ser um partido ou pessoa que respeite as diferenças religiosas. O Brasil é o país da liberdade religiosa. Sempre foi. Cresci frequentando ao mesmo tempo centros de umbanda, cultos evangélicos e missa de domingo. Sou batizada e crismada na Igreja Católica mas me identifico hoje com o Espiritismo.

Quero governantes que respeitem suas instituições. Eu cresci com medo da polícia e medo da Justiça. A Justiça do Brasil está totalmente descrita no livro O Processo, de Joseph K. Nem preciso falar muito sobre isso. Nada mudou.

Correção: o autor é Kafka. Joseph é o personagem do livro com o qual qualquer pessoa que já tenha tentado resolver processos no Brasil se identificará.

E a polícia...  Bem, eu fui adolescente em plena Ditadura. E nós tínhamos medo da polícia. Os pais nos diziam: se você se perder, não fale com a polícia, procure uma banca de jornal. Talvez hoje para os jovens pareça exagero, mas acredite: não era assombração! Havia uma polícia muito má, que era a polícia do Maluf. Maluf foi prefeito de São Paulo em plena ditadura e sempre esteve com a Extrema Direita.  (Daí eu não entender aquele abraço...)

Eu quero uma polícia em que eu possa confiar. Porque não pretendo mesmo amarrar bandidos em postes e nem quero viver sob ameaça de bandidos a vida toda. Eu entendo o lado deles: falta equipamento, pessoal de investigação, preparo em todos os níveis. Mas quem, por Deus, em sã consciência arriscaria a vida em confrontos com bandidos sem receber por isso uma salário digno e respaldo da população? Estes que ainda estão por ai merecem todo o meu respeito.

Eu quero os bandidos na cadeia. Mas quero que sejam tratados com dignidade. Com direito a julgamento e principalmente com alguma possibilidade de reabilitação. Não nos serve essa cadeia que funciona como depósito de gente. Onde os mais fracos morrem abandonados e sobrevivem apenas os mais violentos.

Aliás, desejo Dignidade para todos os brasileiros. Todos.

Também eu gostaria de alguém que defendesse claramente o direito de escolha no caso do aborto. Vê que pareço bastante coerente, não? Quero liberdade em todos os sentidos. Esse é o meu bordão.

Eu compreendo a delicadeza dessa discussão em um país religioso. Mas é preciso que os governantes tenham uma posição clara e a sustentem para que a discussão saia do nível religioso e venha pra a realidade das ruas. Que essa questão seja antes discutida com médicos e que se leve em consideração fatores como mortalidade infantil e mortalidade de mulheres em clínicas clandestinas. Não quero nunca mais um governante que negocie essa questão em acordos nefastos sem nenhuma clareza de princípios.

Quero leis mais rigorosas contra agressores de mulheres e outras minorias.  E quero muitas campanhas na rua sobre Violência  e suas terríveis consequências. Quero comprometimento de toda a sociedade nessa luta.

E desejo que todos, sem exceção sejam de fato e de direito IGUAIS perante a lei.

Quero um governante que compreenda que estamos perdendo a guerra contra as drogas e reveja suas políticas de combate ao tráfico.

Eu quero um país melhor. Onde as minhas opiniões não sejam caladas por bordões sem sentido. Onde haja livre manifestação do pensamento. E respeito.

Eu quero um país onde as maioria das pessoas saiba escrever, ler e interpretar um texto de forma crítica, compreendendo que não existe de verdade o lado Bom e o lado Mau. Existem pessoas e políticas que precisam ser trabalhadas. Valores que precisam ser mais discutidos e ensinados para os filhos. Precisamos mais do que nunca de valores.

Quer o perder ou  ganhar. Quero tentar a Roda da Fortuna. Quero o direito de ir e vir. Quero o direito a Justiça, à Saúde e à Educação.

Enfim, eis-me. E digo: fascista é você que defende um só caminho. Fascista é você que aceita a mentira de que a Venezuela está em crise por "excesso de democracia". Fascista é você que acha que combater a pobreza é afastá-la das estatísticas. Fascista é você que acredita em um mundo onde a Imprensa seja censurada. Fascista é você que aceita que um partido comprometido com valores que simplesmente entregue Comissão dos Direitos Humanos ao primeiro aventureiro... Fascista é você que admite o engodo da governabilidade sem se perguntar sobre para quem se governa.

Em tempo, assista esse filme e depois fique um pouco em silêncio para ouvir os lamentos, não só do povo de São Luis, mas do seu vizinho ou daqueles mortos-vivos dos terminais. Ouça o ranger de dentes nas prisões. Ouça os gemidos das mulheres nas clínicas de aborto. Chore com as mães que perdem seus filhos assaltando ou sendo assaltados. Ouça as crianças nos hospitais e o rastejar de chinelos cansados nos corredores do desamor.

Depois. Só depois. Escolha seu partido ou uma pessoa bem bacana para nos representar.


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

pra ver o tempo passar

Salvador Dali - Fado das Horas

Eu gosto de dizer que tenho tempo.
É a maior fortuna nesse momento.

Eu hoje estou totalmente distante da sociedade de consumo.
Eu nunca fui lá uma grande consumista...
Eu nasci dura, né?

Eu sinto falta assim, por exemplo, de poder comprar um bom sapato. Uma bota linda.
Eu só comprava uma bota por ano mas gostava de saber que poderia comprar se quisesse.

È bom sentir isso. Um exercício gostoso de liberdade.

Mas outras coisas não faço questão e talvez por isso eu tenha me adaptado tão fácil a este novo momento da minha vida.

Eu fico assombrada pelo fato de nunca ter desejado essa vida.  Não lembro jamais de ter pedido Tempo nas minhas preces. Digo Tempo não esse que a gente quer que um dia tenha 95 horas para que possamos fazer cada vez mais coisas. Não. Não esse tempo. Tempo. Para sentar e ver passar o tempo.

Apenas refletir sobre o tempo, se for tempo de chuva, se é bom para plantar.  E outros tempos também. Ver uma semente brotar. Pisar na grama. Reclamar do mato crescendo.

Tempo.

Eu trabalho agora para pagar dívidas desse passado sem tempo que eu vivi. E pronto. Só pra isso que eu trabalho. Se quero um vestido, posso sentar e fazer. Tecnologia nunca fui muito encantada. Preciso de um bom computador conectado a internet e um celular que eu fale aqui e a pessoa responda de lá.

Isso eu tenho.

Então, não preciso de nada. Só quero poder pagar umas dívidas. Especialmente duas amigas amadas que me valeram em hora de grande dificuldade. E depois disso ajudar meu companheiro.

Claro que para eu estar vivendo assim tem que ter alguém que me  ama muito trabalhando duro. E o mais, enfim, viver só para gastar o tempo. O tempo que me resta. Podem ser ainda muito anos mas também pode não ser, né? A gente não sabe mesmo quando vai.

Posso ficar horas mandando boas vibrações para o mundo.

Posso dar para a Mary todo o carinho que ela pede.
E correr eu atrás da bolinha porque ela se cansa...

Tenho tempo para longas conversas com os clientes da loja.
Que eles recebam com carinho esse brinde.
Porque tempo é a maior riqueza.

Pena que só agora me chegou esse presente.
Teria visto meu filho crescer se pudesse.

Por isso acho louco nunca ter desejado esse tempo.
Eu queria dinheiro e estava disposta a sacrificar meu tempo.
Mas pra quê eu queria dinheiro? Pra um dia ficar mais tempo com meu filho.
Só que meu filho cresceu. E nem juntei toda essa grana e nem estive ao lado dele.

Grande coisa eu fiz...

Também gostaria de ter dinheiro para viajar. Mas tenho medo de avião e acho que enjoo em navio. Então precisaremos de tempo para ir lugares perto daqui. Por mim, visitaria Guaramiranga pelo menos duas vezes por ano.

Mas é tempo. Porque ir até lá é relativamente barato. Então dinheiro é só desculpa.

Obrigada pelo tempo que esteve aqui ao meu lado.
Tempo é precioso e saber que você veio aqui compartilhar um pouco do seu  me faz muito feliz.

Obrigada! : )